Na maior parte do tempo, a gente por aqui nem lembra que o Vítor tem um pai, outro pai que não é o Gustavo. Normalmente, só eu é que sou obrigada a lembrar disso, quando acontecem alguns incidentes desagradáveis (seria mais correto chamar de "palhaçadas"). Afinal, é isso que acontece quando um pai vê o filho de 15 em 15 dias, por cerca de 4 horas e durante o resto dos dias é completamente ausente. E durante toda a vida do Vítor foi assim. Uma vez ele se mudou de cidade e ficou cerca de um ano sem dar nem um sinal de vida.
Nunca me preocupei com isso, porque o Vítor nunca se incomodou. Mas agora ele está ficando grande e a diferença está começando a pesar. Não que ele sinta falta de ficar mais tempo com o pai. Na verdade, ele não sente falta absolutamente nenhuma. As tias da escola se surpreenderam ao saber que o verdadeiro pai do Vítor existia, pq ele nunca se referiu a ele, nem uma vezinha. A diferença está vindo dos valores, da criação. E me dói o coração ver meu filho sentir essas coisas.
Aqui em casa, Gu temos uma espécie de código: a gente não mente para o Vítor. Claro, tem as mentirinhas de sempre, do tipo "pode comer que não tem cebola", "não, isso não é suco de cenoura", ou "pode ir dormir que eu também já tô indo". O que estou querendo dizer é que não prometemos aquilo que sabemos que não iremos poder cumprir. Se o brinquedo é caro, não dizemos "vou te dar" e ficamos enrolando o menino. Dizemos "olha, o brinquedo é caro e não temos dinheiro. Se um dia a gente puder, tudo bem. Enquanto isso, não quer ver se achamos outro mais barato?". Graças a Deus, temos um filho abençoado, muito inteligente, que sempre concorda e achamos outra opção que agrade a todos (ele e o nosso bolso). Se ele quer ir ao parque de diversões e não temos dinheiro, falamos: "agora não dá, estamos sem dinheiro. Mas qdo recebermos o salário te levamos. Se vc não aprontar nada errado até lá, claro". Ele se comporta direitinho (na medida do possível, claro) e nós cumprimos a promessa.
Acontece que o pai biológico dele não segue a mesma linha. Um dos primeiros problemas que tivemos sobre o assunto foi uma vez em que o Vítor pediu para ir ao parque de diversões e a resposta foi: hoje tá fechado. Mas não foi simplesmente assim. Teve toda uma encenação, de fingir que ligava para o parque e descobrir que estava fechado. Quando o Vítor me contou, percebi logo a jogada e fiquei indignada, mas me segurei e não falei absolutamente nada. Acontece que uns dias depois ele comentou na escola e os amiguinhos desmentiram. Não sei exatamente o que aconteceu, mas devem ter chamado o pai dele de mentiroso. Vítor ficou arrasado e comentou comigo, que falei pra ele não ligar pra essas coisas, que não ficasse esperando muito do pai dele, que quando quisesse alguma coisa, falasse comigo. Mesmo assim, na próxima visita ele lembrou e falou pro pai dele. A resposta: mentirosa é sua mãe. Super didático, impressionante. Ainda me mete no meio da sujeirada dele.
Nesse meio tempo já aconteceram outros problemas, mas tenho relevado e procuro ao máximo não me meter. Podem me acusar do que for, mas nunca falei mal do pai dele pra ele. Se ele vai se decepcionar, vai ser pelos próprios olhos e ouvidos. Afinal, eu não preciso dar corda pra ninguém se enforcar. Ele faz isso sozinho. Inclusive porque o Vítor já me contou algumas coisas que eu sei que são verdade - conheço bem meu filho, sei qdo está inventando e qdo está relatando e quando falei para o pai dele, a resposta foi: ele está inventando. Resumo: acusa o próprio filho de ser mentiroso.
Mas o que motivou esse post foi algo que o Vítor disse hoje, quando voltou da visita. Um comentário simples, mas que vi ser recheado de mágoa. Não aconteceu nada de mais, não foi um grande problema. Mas foi mais uma mentira e o Vítor não é bobo. Por algum motivo - talvez para convencer o menino a ir, já que ele hoje não queria ir - o pai prometeu um novo dvd do Pica-Pau. E, por algum motivo (embora não me surpreenda nada) ele não cumpriu. Vítor chegou aqui no meu quarto e disse: mãe, porque meu pai é tão mentiroso? Dava pra ver que ele não estava acusando, reclamando, nada. Somente constatando, desapontado. Dá pra imaginar a saia justa? Sorte que o Gustavo estava comigo e demos uma dourada na pílula, dissemos que talvez ele tenha esquecido e coisa e tal. Reforçamos novamente que, cada vez que ele quiser alguma coisa, fale diretamente com a gente, que se ele estiver merecendo e nós tivermos dinheiro, ele vai ter. E aproveitamos pra dizer pra não esperar muito do pai dele, pra não ficar triste depois. Que falasse conosco e a gente ia ver o que poderia ser feito.
Tenho plena consciência de que, uma hora, não vou conseguir mais proteger meu filho da decepção. Bem, pelo menos não poderei também ser culpada de construir uma linda imagem de pai, porque se não falo mal dele, tampouco falo bem também. Seria pedir demais de mim depois de tudo o que ele fez comigo - que não foi pouco. Se tenho que elogiar alguém por ser pai e se tenho que construir uma boa imagem de pai, esse mérito vai todo para o Gu, que chegou em nossa vida qdo o Vítor tinha um ano e meio e de lá pra cá ele saiu da completa ignorância (de não saber mesmo) sobre como criar uma criança, para um verdadeiro comportamento de pai. Me orgulha ver meu amor educando o Vítor, do jeito que ele sabe, errando muitas vezes, mas sempre com muito carinho e muito amor. Na verdade, ele tem mais paciência que eu na maioria das vezes. Hoje, por exemplo, passou 1 hora e meia ensinando o Vítor a jogar xadrez. Eu teria desistido nos primeiros 15 minutos, confesso.
De qualquer modo, paciência. A vida é assim mesmo. Só vai me restar pegar meu pequeno no colo, beijá-lo e abraçá-lo muito no dia em que as coisas se mostrarem como elas realmente são. O que tiver de ser, será...
Nunca me preocupei com isso, porque o Vítor nunca se incomodou. Mas agora ele está ficando grande e a diferença está começando a pesar. Não que ele sinta falta de ficar mais tempo com o pai. Na verdade, ele não sente falta absolutamente nenhuma. As tias da escola se surpreenderam ao saber que o verdadeiro pai do Vítor existia, pq ele nunca se referiu a ele, nem uma vezinha. A diferença está vindo dos valores, da criação. E me dói o coração ver meu filho sentir essas coisas.
Aqui em casa, Gu temos uma espécie de código: a gente não mente para o Vítor. Claro, tem as mentirinhas de sempre, do tipo "pode comer que não tem cebola", "não, isso não é suco de cenoura", ou "pode ir dormir que eu também já tô indo". O que estou querendo dizer é que não prometemos aquilo que sabemos que não iremos poder cumprir. Se o brinquedo é caro, não dizemos "vou te dar" e ficamos enrolando o menino. Dizemos "olha, o brinquedo é caro e não temos dinheiro. Se um dia a gente puder, tudo bem. Enquanto isso, não quer ver se achamos outro mais barato?". Graças a Deus, temos um filho abençoado, muito inteligente, que sempre concorda e achamos outra opção que agrade a todos (ele e o nosso bolso). Se ele quer ir ao parque de diversões e não temos dinheiro, falamos: "agora não dá, estamos sem dinheiro. Mas qdo recebermos o salário te levamos. Se vc não aprontar nada errado até lá, claro". Ele se comporta direitinho (na medida do possível, claro) e nós cumprimos a promessa.
Acontece que o pai biológico dele não segue a mesma linha. Um dos primeiros problemas que tivemos sobre o assunto foi uma vez em que o Vítor pediu para ir ao parque de diversões e a resposta foi: hoje tá fechado. Mas não foi simplesmente assim. Teve toda uma encenação, de fingir que ligava para o parque e descobrir que estava fechado. Quando o Vítor me contou, percebi logo a jogada e fiquei indignada, mas me segurei e não falei absolutamente nada. Acontece que uns dias depois ele comentou na escola e os amiguinhos desmentiram. Não sei exatamente o que aconteceu, mas devem ter chamado o pai dele de mentiroso. Vítor ficou arrasado e comentou comigo, que falei pra ele não ligar pra essas coisas, que não ficasse esperando muito do pai dele, que quando quisesse alguma coisa, falasse comigo. Mesmo assim, na próxima visita ele lembrou e falou pro pai dele. A resposta: mentirosa é sua mãe. Super didático, impressionante. Ainda me mete no meio da sujeirada dele.
Nesse meio tempo já aconteceram outros problemas, mas tenho relevado e procuro ao máximo não me meter. Podem me acusar do que for, mas nunca falei mal do pai dele pra ele. Se ele vai se decepcionar, vai ser pelos próprios olhos e ouvidos. Afinal, eu não preciso dar corda pra ninguém se enforcar. Ele faz isso sozinho. Inclusive porque o Vítor já me contou algumas coisas que eu sei que são verdade - conheço bem meu filho, sei qdo está inventando e qdo está relatando e quando falei para o pai dele, a resposta foi: ele está inventando. Resumo: acusa o próprio filho de ser mentiroso.
Mas o que motivou esse post foi algo que o Vítor disse hoje, quando voltou da visita. Um comentário simples, mas que vi ser recheado de mágoa. Não aconteceu nada de mais, não foi um grande problema. Mas foi mais uma mentira e o Vítor não é bobo. Por algum motivo - talvez para convencer o menino a ir, já que ele hoje não queria ir - o pai prometeu um novo dvd do Pica-Pau. E, por algum motivo (embora não me surpreenda nada) ele não cumpriu. Vítor chegou aqui no meu quarto e disse: mãe, porque meu pai é tão mentiroso? Dava pra ver que ele não estava acusando, reclamando, nada. Somente constatando, desapontado. Dá pra imaginar a saia justa? Sorte que o Gustavo estava comigo e demos uma dourada na pílula, dissemos que talvez ele tenha esquecido e coisa e tal. Reforçamos novamente que, cada vez que ele quiser alguma coisa, fale diretamente com a gente, que se ele estiver merecendo e nós tivermos dinheiro, ele vai ter. E aproveitamos pra dizer pra não esperar muito do pai dele, pra não ficar triste depois. Que falasse conosco e a gente ia ver o que poderia ser feito.
Tenho plena consciência de que, uma hora, não vou conseguir mais proteger meu filho da decepção. Bem, pelo menos não poderei também ser culpada de construir uma linda imagem de pai, porque se não falo mal dele, tampouco falo bem também. Seria pedir demais de mim depois de tudo o que ele fez comigo - que não foi pouco. Se tenho que elogiar alguém por ser pai e se tenho que construir uma boa imagem de pai, esse mérito vai todo para o Gu, que chegou em nossa vida qdo o Vítor tinha um ano e meio e de lá pra cá ele saiu da completa ignorância (de não saber mesmo) sobre como criar uma criança, para um verdadeiro comportamento de pai. Me orgulha ver meu amor educando o Vítor, do jeito que ele sabe, errando muitas vezes, mas sempre com muito carinho e muito amor. Na verdade, ele tem mais paciência que eu na maioria das vezes. Hoje, por exemplo, passou 1 hora e meia ensinando o Vítor a jogar xadrez. Eu teria desistido nos primeiros 15 minutos, confesso.
De qualquer modo, paciência. A vida é assim mesmo. Só vai me restar pegar meu pequeno no colo, beijá-lo e abraçá-lo muito no dia em que as coisas se mostrarem como elas realmente são. O que tiver de ser, será...